Natal

A encosta sempre verde

parecia que sempre estivera,

na cor, apenas a te aguardar

- e chegaste, e vieste, e nasceste!


E, assim também, dentro de cada um de nós,

há um brilho, há uma Luz,

que como lindo farol conduz.






(I)material

No movimento da grande eternidade,

vence a Luz -  e o Sol fica parado,

sem a sombra de pecado,

e, despertando,

me seduz.


Esta é a matéria do Espírito,

que colho nas Maravilhas da Natureza,

que, sem sonho de grandeza,

é Harmonia, é Beleza,

é Verdade pura e real.


em solstício de inverno, 21 de dezembro de 2017






Travessia

Mil anos, e amanhece, enfim.


Homem, que correste o deserto dos medos,

que venceste a ausência e o degredo,

que abriste a última porta

da tentação,

amanhece, agora, como amanhece cada dia

e procura, com uma coragem sadia,

apenas a Flor

mais bela da iniciação.




As coisas da memória

O renque de árvores, nas traseiras do prédio,

não despiu ainda a folhagem.

Mas vão amarelecendo uma a uma as folhas.

Mas cairão, lenta e suavemente, um dia após outro dia.


Assim também é com as coisas da memória.

Primeiro enfraquece, depois vai amarelecendo,

depois, um dia, lenta e suavemente, se desprende sem mais lembrança.


Pois é, fica a árvore despida.

Tão despida como quando amanhece a vida,

antes do florescer de uma primavera,

Saudade anterior de uma espera.





Outono em estio

Sopraram a chuva para tão Longe

e brilhou o sol.


E, agora, árida de novo, a terra,

sedenta daquele profundo Amor dos deuses,

procura nas entranhas de si

a lava viva

a labareda incandescente

com que acenda a Imaginação de um poeta

e haja, assim, na margem da vida, uma, apenas uma,

ideia florida.







Apontamento

Do mundo,

fomos apenas Crianças tristes

e não soubemos, porque o destino não o quis,

agarrar o breve lapso da Felicidade.


Mas há Mar! Mas há um infinito instante de Ser!,

e há o Amanhecer constantemente a cada dia.


E, talvez, numa hora de uma madrugada luzidia,

cada um nós, agora Adultos sem pecado,

saibamos colher, na memória do passado,

a Flor, o Instante, o Brocado.

Devaneio

E, de repente, subitamente,

é outono.


Um outono suave e compassivo.


E eclode, como numa primavera, em mim,

o Sonho sem fim

de que uma Luz atravesse o Mundo

e que todos acordem do seu dormir mais profundo.

Frágil eternidade

Por uma nesga da vidraça da janela alta,

observo os plátanos -

grandes árvores centenárias,

de porte magnífico,

tão eternas, mas tão frágeis na tecitura do Tempo.


São estupendas criaturas que,

dia a dia, ano a ano, primavera a primavera,

adensam, na terra, as raízes

e sonham - num Sonhar de serem felizes -

permanente Glória;

e mais a seiva as incita

a esquecer na Terra toda a desdita;

mais, num para além do Ciclo do Tempo,

grande, imenso, incomensurável, é eterno Alento

este simples, frágil, perdido, momento.

A matéria dos Sonhos

Feito e desfeito,

uno e fragmentado,

parece o Sonho apenas um bocado,

ou um fio, de uma Nuvem qualquer.



Mas, não é assim, quando me arrepio

e, quando sinto um doce e amargo frio,

que irrompe em Mim, Madrugada adentro.



É talvez um Sonho!, vindo do Pensamento

daquele sonhar o mundo, e cada pessoa em cada segundo,

que vem ao meu encontro,

tão desabridamente e tão de repente,

que a minha Alma pula,

na grande perplexidade,

de haver no Sonho uma existência com Verdade.











Everywhere

Em todo o lado, no todo em redor,

no mundo inteiro,

há talvez uma chama de Vida,

que é mais forte,

e que tem nela a medida

da nossa sorte.


E, no rasgo do destino de cada homem,

sempre uma infância aconteceu -

e houve um momento,

de inconsciência e de vida,

de pura, apenas pura, Alegria sentida.







Quietude

E se tudo fosse só, e apenas,

Silêncio - e Luz!

Talvez assim desaparecesse deste mundo

o medo, e a Aurora,

a cada dia,

seria menos triste e fria,

nos nossos humanos Corações.


Segredo de Silêncio e Luz

te grito - homem, colhe em ti o Infinito,

e a espaços aquieta o teu Ser

até em Silêncio e Luz seres e amanheceres.



Numa mesma estrada...

De algum modo, por algum tempo,

talvez naquele Tempo eterno do Ser,

caminhámos, juntas andámos,

numa mesma estrada.


Tangem os sinos agora.

E o teu Ser,

como numa alvorada,

desperta para outra Luz

mais completa,

a Luz de toda a Alma desperta.

em memória da Louise Hay



Singular intenção

Em matéria subtil,

mais subtil do que a matéria

do pensamento,

bordo, fio a fio, morosa e lentamente,

nesta manta de retalhos

que é a vida.


E talvez aconteça que o fito, primeiro,

o fito inicial, de ser o Sonho

qual sublime Realidade,

se torne um vir a ser de Verdade.




Como os deuses não podem...

Como os deuses não podem reescrever

o destino, ao contrário, eu o desejaria poder

e, neste lastro do Ser, ser no passado esta que hoje eu sou.


Mas, bem sei, este sonho louco que almejei

já é, novamente, esgotado.


Instante a instante,

um degrau subo na imensa escadaria do Mundo,

e, segundo a segundo, nova e outra sou no profundo.





Pôr do Sol

Na vermelhidão da linha do horizonte,

a árvore é como um foco negro,

sem luz, que sossega,

e assinala a vagarosa despedida.


E, então, subitamente,

desejo o regresso

àquele antigo lar que não esqueço,

para sempre perdido nas brumas de uma imensidão.


Imensidão de Tempo.

Inviolável Porta - para sempre cerrada.

Não há Caminho, não há estrada -

não há senão este anoitecer e amanhecer

de cada dia, um novo dia, para viver.







Simples Alegria

Ao longe a planície, Évora

Misteriosa, a Rosa.

E, dum arbusto de espinhos,

desponta um a um cada botão

e, quando uma a uma cada Rosa se abre,

percebo que é Verdade -

há uma Paz que nasce do Coração.







Simples Alegria

Ao longe a serra, Sintra

Do imenso Cosmos, do imenso Universo,

de todos os locais do imenso Mundo,

só, neste, menos do que ínfimo,

poderia ter experimentado a simples Alegria.


E o que é a simples Alegria? - É uma inteira Harmonia.

É uma Paz irreversível no Coração. É um Caminho

que não é um Caminho vão. E, se perguntares de novo,

te direi, foi uma Dor, foi uma grande Dor,

que, como a um Mar,

atravessei.







No Infinito e no Mundo

Num outrora, que antes houve,

foi primavera, e depois foi verão.

Tudo despontou, tudo, enfim, floriu,

e tudo foi como uma Rosa que se abriu

na Vida, para a Vida, numa imensidão.


E, nesta cadência de Ciclo sob Ciclo,

que nasce e se silencia,

vejo, agora, num cúmulo de Consciência,

a chegada das vestes outonais.


Que belo!, ser enfim outono.

- Que extraordinária Maravilha!,

tenho o privilégio de viver -

E tão Maravilhoso como ver o Sol nascer

é esta sublime metamorfose do Ser.





De repente

E o Sul?,

em que paraíso ficou?,

onde não estou.


Mas talvez que do cimo da encosta,

tão próximo, tão juntinho, ao Céu,

eu possa ver o Mundo

e, no vislumbre de um segundo,

reencontre o Sul, a Estrela,

e aquele deus,

que nos oferece a infância perdida,

no último momento, no final da vida.









Ainda primavera

Não tenhas pressa que chegue

a outra nova estação.

Não tenhas pressa do tempo correr.

Sê como a Criança

que brinca ao pião e que tem

a plena emoção

desse momento viver.





Eternidade

Belíssimo! - Aflora, como um toque

doce e muito suave,

o vivo sentimento da eternidade,

no momento em que,

de pés bem assentes na terra,

há um Infinito que é uma seiva

que te leva.


E não há nem vento, nem escuridão,

nem tormento.


Belíssimo!, quando

a Alma sentiu

que o Coração se abriu

e que, de par em par,

foi uma Ave a voar.



Claridade

Pode ser brevíssima - um instante apenas -

a névoa, que cobre o horizonte,

se, dentro de ti, houver

uma Fonte

e se a água jorrando, correr,

como a Luz do amanhecer.







Poema de agosto

É agora o verão.

O eterno verão do pensamento,

que uma Alma laboriosa

busca no Céu firme,

azul magento.


Sem ânsia, nem utopia,

só em realidade

e em prosa,

é límpido cada dia

como um verso

que nasce sem glosa.





Na espiral do tempo

Já mergulhei neste rio.

Mergulho de novo neste rio.

Mas, embora a margem seja a mesma,

são outras as águas deste rio igual e diferente.


Movimento imparável.

Movimento imparável do tempo.

Espiral que é doutra madrugada sempre nova.


E, então, de novo no coração do movimento das águas do rio,

minha Alma colhe outra nova flor e se engrandece

com uma nova Alma em sua prece.





Olhar tranquilo

Que saudade da planície,

eterna e infinita,

Musa perene.


Mas para além vai o meu pensamento,

correndo, momento a momento,

em busca

dessa Paz tão bonita -

a do silêncio dos campos na vista.







Em si o tempo

Entre pérolas e corais,

na súmula da profundidade

e da profusão dos Mares,

é mais livre, mais livre, sem dúvida, o Tempo.


Por isso, cada dia, nessa tremenda imensidão,

nasce, na madrugada, sem pressa

como coisa que Começa.








Num tempo sem tempo

A primeira prece

não deve ter sido senão um rosto

erguido e levantado

como fitando um Horizonte.


Não devem ter havido palavras,

e por isso foi uma autêntica oração,

um diálogo de Coração a Coração.






Monção

Ontem choveu.

Mas a minha memória é já vaga e ténue

dessa chuva que caiu.

Hoje brilha o Sol.

Memória de Sol apenas.


E, por isso, só tenho lembranças de Luz,

ainda que saiba que no correr do dia

pode haver uma manhã sombria.






Seguir as estrelas para a Liberdade

Homenagem, 25 de abril de 2017

De dois dias me esqueci.

Devem ter sido os dois dias da noite dos Tempos,

os dois dias que condenam ao Inferno aqueles

que não querem, nem são capazes, de seguir estrelas,

com o Coração.


E, porque o Inferno existe para os condenados,

tanto que precisamos da Luz das estrelas mais belas...


E talvez venha a haver um dia, feito todo ele de uma única madrugada completa,

uma oitava de uma a uma cada estrela do Céu,

que seja um abril

para toda a Humanidade.






Todos os Nomes

E, sim, deve haver

um Nome,

uma Palavra, para cada Ser...


Tal como em cada janela deve haver

uma colina

à sua frente

chão que não se pisa

mas que se revê.



Mas, desgraça infinita!,

não é esta da humanidade a dita,

pois há tanta janela sombria

ainda que o Sol a cada dia sorria.








Mar chão

E, finalmente, despontou

- abrindo-se -

o botão da flor de Orquídea

e parece até que todo o Mar chão

da praia

inunda os pixels desta grande Onda

em que hoje todos nós nos movemos.


Mas a flor aberta é imagem desperta

de um Caminho que se renova

e do qual toda a forma de Perfeição é a prova.




Vislumbre de um Tempo

E, no regaço, colho um silêncio de ondas

- e em cada movimento desponta,

clara e imediata, a brancura da espuma...


E luziu o Sol, num segundo,

esperança no Mundo.






Na estranha eternidade do tempo

Cerro os olhos e nítida, sempre nítida,

eis a imagem possível de um fragmento do eterno

que eclode no espaço e dentro de Mim -

cada Alma nua, despida, no encontro com a Vida -

e, porque não compreendo,

e, porque o que acontece está para Além do meu Ser

e do Ser de todos os homens, é talvez possível, que seja verdade,

e que uma brecha no Universo se abre,

transcorrendo um fino fio de Luz.


E porque esta é a magia sem fim,

e porque este é o sagrado em Mim,

e porque há um momento de silêncio,

como se o Mundo estivesse prestes a nascer,

acredito, sim acredito, este é em Nós o infinito.














Na quietude

Era ontem o arvoredo silencioso

que agora, neste instante, mesmo, eu vejo?

Sim. Era ontem.


Mas o Tempo ficou imóvel,

não transcorreu,

porque nada do Tempo morreu.





No inesperado...

O cimo da encosta,

e o bando de aves ergue-se e reergue-se,

reergue-se e ergue-se,

pairando, e esvoaça, junto à linha do horizonte.


Um bando de aves que celebra

inesperadamente

o encanto de voar

- voa com ele o meu Coração

ergue-se e reergue-se

como uma bênção.






No gesto de fruição plena

O êxtase. O êxtase.

Por momentos, o êxtase.



O imenso e intraduzível prazer

de ser só minha,

num fragmento de tempo

que gostosamente vou demorando,

a Palavra... a Palavra inicial...


Mas, depois, há que largar,

e solta - livre -

a Palavra é renascida

e vai pelo Mundo

ao encontro de mais Vida.





Inicial

E, então, toda a Beleza

da Natureza

confluiu numa chuva derramada,

nos caminhos, nos campos, e na estrada.


Que multidão?!, assistiu a esta água que caiu,

como bênção que espargiu.




Serenity

28 de janeiro de 2017
O Céu perfeito nasceu

no amanhecer claro deste dia -

em dispersão, nuvens escuras de anil

na linha alaranjada e infinita

do horizonte.














Travessia

Atravesso o Tempo.

Vou atravessando o Tempo.

E a travessia é cada vez mais lenta e suave -

atravesso o Tempo como uma Ave

que nem sabe que o Tempo existe,

mas que ao amanhecer,

a cada dia, assiste.







Nítida Memória

O espaço era imaculado, e branco,

e havia uma multidão em pé,

e, aí, havia um Mistério.


E, a partir daqui, a memória nítida desvanece,

e o ruído ou o silêncio

e o ser ou o não ser

são apenas modos de dizer.



Claríssima memória, de novo, agora -

a Luz!, a eterna Luz!











O pássaro que antes sonha



No voo, o sonho não é possível!, isso já o sabia desde há muito tempo. Sim. O imperativo do voo interdita a habilidade de sonhar.

No voo, toda a atenção se resume aos detalhes e aos pormenores da distância que se quer percorrer e as asas abertas, que se movem compassadamente ou que planam, obrigam a uma concentração do esforço da mente nesse exercício físico.

E a dimensão imensamente frágil do sonho exige um aconchego – a gaiola de pássaro é por isso o seu universo absoluto de existência, pois é só nela que o rasgo do sonho é viável.

Não voa, portanto, o pássaro, contrariando a natureza do seu ser; porque antes prefere ver o amanhecer – ilusão súbita de um dia novo que nasce no fundo do seu pensamento - do que perder esse momento dessa alvorada num esforço inglório de jornada.





Um dia a ir ver o mar

E numa planura de voo,

duas gaivotas deslizam, cortando o espaço,

e rasantes - como incensando

de neblina o horizonte e o brando Céu -

são apenas um estilhaço

dum momento

- de um momento que é o compasso

de um deus!








Vislumbre

Tanto de Planície e tanto de Céu,

que ondula como uma vaga numa maré cheia

este meu inquieto pensamento.


E vaga a vaga, num só momento,

um Poema vivo, sem palavras e nunca escrito,

é o que basta ser dito!






Catedral de Luz

É de Paz este momento fugaz do mais límpido amanhecer. Sonho de viver.